Pix completa quatro anos de operação e consolida revolução em transações financeiras
Economia, Negócios e Desenvolvimento
Publicado em 17/11/2024

Meio de pagamento já superou a marca 121,5 bilhões de operações, atingindo R$ 52,6 trilhões

Por Ana Carolina Manzziana, de O Dia / Foto Reprodução 

O Pix completou neste sábado, 16, quatro anos de operação. A movimentação de dinheiro no Brasil se transformou com a chegada do meio de pagamento eletrônico instantâneo e gratuito. Desde que o serviço foi lançado, em novembro de 2020, a expressão "faz um Pix" se tornou mais do que corriqueira de norte a sul do País. De acordo com dados do Banco Central (BC), o método já superou a marca 121,5 bilhões de transações, atingindo R$ 52,6 trilhões. 

O sistema de transferência foi idealizado em 2018 e implementado dois anos depois. Ele é operado por mais de 770 instituições financeiras, de acordo com o BC. Por conta da facilidade de mandar e receber dinheiro, e também pelo fato de não haver taxas, a adesão dos brasileiros ao novo sistema foi expressiva. Segundo o Banco Central, o sistema custou R$ 5 milhões e despertou o interesse de outros países pelo baixo custo.

No último mês, a autoridade monetária registrou que os brasileiros tinham 805,6 milhões de chaves cadastradas, sendo que 766,3 milhões são de pessoas físicas, ou 95%. O balanço do BC também mostra que 48% das transações do Pix são feitas de pessoa para pessoa. Ainda de acordo com os dados, 44% das transações são iniciadas pela chave Pix. Outro dado que chama a atenção: 160,5 milhões de pessoas físicas já fizeram um Pix.

Segundo a estimativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o meio de pagamento deve crescer este ano 58,8% em relação a 2023 e movimentar R$ 27,3 trilhões. A projeção mostra ainda que o número de transações na ferramenta de pagamento instantâneo deve apresentar grande expansão, algo como 52,4%, chegando a 63,7 bilhões de operações.

"Os resultados alcançados pelo Pix neste ano até setembro já ultrapassaram as estatísticas alcançadas pela ferramenta em todo o ano de 2023. Já foram feitas 45,7 bilhões de transações totalizando R$ 19,1 trilhões"", aponta a federação.

"O Pix foi uma agenda emblemática do Banco Central, algo histórico, e que se somou a outras importantes mudanças que o setor bancário já introduziu no dia a dia das pessoas ao longo dos anos, como os tokens, a internet banking, biometria e o mobile banking. É um sucesso nacional e um exemplo internacional", avalia Isaac Sidney, presidente da Febraban.

Como funciona

As transações de pagamento por meio de boleto exigem a leitura de código de barras, enquanto o Pix pode fazer a leitura de um QR Code. A diferença é que no Pix a liquidação é em tempo real, o pagador e o recebedor são notificados a respeito da conclusão da transação. Além disso, o pagamento pode ser feito em qualquer dia e horário.

As transações de pagamento utilizando cartão de débito exigem uso de maquininhas ou instrumentos similares. Com Pix, as transações podem ser iniciadas por meio do telefone celular, sem a necessidade de qualquer outro dispositivo.

O sistema também conta as modalidades Pix Saque e Pix Troco, lançadas no fim de 2021. Elas permitem que o usuário faça saques em lojas, não apenas em caixas eletrônicos. A oferta das duas modalidades é opcional e depende dos estabelecimentos.

"A adoção do Pix trouxe uma verdadeira revolução ao cotidiano das pessoas, democratizando o acesso a transações rápidas e gratuitas. Com o Pix, transferências entre contas, antes restritas aos horários e dias úteis dos bancos, podem ser feitas instantaneamente, 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso trouxe agilidade para resolver urgências e simplificou o envio de dinheiro para familiares e amigos", destaca o especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias.

A O DIA, o Banco Central, por meio de nota, relevou que o meio de pagamento "ainda não atingiu seu pleno potencial", tendo espaço para crescimento com diversos produtos e novidades previstos. De acordo com a autoridade monetária, "a adoção massiva" da população está em linha com as expectativas do BC, porque ele "foi concebido para ser versátil, acessível e democrático".

"O Pix foi amplamente adotado pela população, empresas e instituições governamentais em um curtíssimo espaço de tempo e tem feito frente aos objetivos públicos ao qual foi desenhado, promovendo redução de custos, aumento de eficiência e de competitividade no setor de pagamentos, alavancando a digitalização e impulsionando a inclusão financeira e novos modelos de negócio", diz a nota do BC.

Pix em alta entre os fluminenses

Um levantamento feito pela Cielo, empresa especializada em meios de pagamentos, mostra em quais setores os fluminenses utilizam o Pix. Segundo o estudo, feito no primeiro semestre, os consumidores optaram por esse método de pagamento nas transações realizadas em oito segmentos distintos, com tíquete médio de até R$ 100 reais.

SetorRJBares e RestaurantesMenos de R$ 40Cosméticos e higiene pessoalEntre R$ 70 e R$ 80Drogarias e farmáciasMenos de R$ 40Móveis, Eletro e DepartamentoEntre R$ 60 e R$ 70Postos de GasolinaMenos de R$ 50Supermercados e HipermercadosMenos de R$ 40Varejo alimentício especializadoMenos de R$ 30Veterinárias e petshopsMenos de R$ 50

As descobertas do levantamento corroboram as percepções dos comerciantes ouvidos na pesquisa Hábitos do Varejo Brasileiro, realizada neste ano pela Cielo em parceria com a Expertise/Opinion Box. Para eles, o Pix se consolidou como uma das principais formas de pagamento no varejo brasileiro.

Em vendas presenciais, a modalidade está empatada com o cartão de crédito (57%) como o meio de pagamento mais utilizado pelos consumidores. Já nas vendas não presenciais, o Pix desponta na liderança em relação ao cartão de crédito: 67% a 56%. Além disso, segundo os entrevistados, o Pix é o meio de pagamento preferido dos consumidores em compras de até R$ 30 (61%) e entre R$ 30 e R$ 100 (54%).

De acordo com Carlos Alves, vice-presidente de Tecnologia e Negócios da Cielo, o Pix é um exemplo marcante de evolução na jornada de digitalização dos meios de pagamento.

"A rápida adoção dessa ferramenta demonstra como os brasileiros estão dispostos a aceitar as inovações. A velocidade e a simplicidade do Pix o tornaram uma opção atraente para transferências e pagamentos e impulsionou o movimento de bancarização da população, melhorando a inclusão. Porém, vale lembrar que quanto mais meios de pagamento existirem, maior a complexidade para os varejistas, e, portanto, mais importante o papel das empresas de pagamento para simplificar esse processo de adaptação", aponta.  

O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Rio de Janeiro (SindilojasRio) e do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio), Aldo Gonçalves, ressalta que, além de ser gratuito para pessoas físicas, o Pix trouxe mais segurança em pagamentos imediatos e maior controle financeiro, principalmente para os micro e pequenos negócios, que podem gerenciar seu fluxo de caixa em tempo real. 

"Com o Pix, lojistas cariocas evitam a burocracia de operações bancárias tradicionais, atraindo clientes e fidelizando-os com um serviço mais rápido e acessível. A praticidade do Pix beneficia também o consumidor, que realiza suas compras sem precisar portar dinheiro em espécie, o que aumenta a segurança para ambas as partes", destaca. 

Gonçalves ressalta ainda que, no Rio de Janeiro, o meio de pagamento impulsionou a agilidade e a inclusão financeira, permitindo que pequenas e médias empresas ofereçam alternativas de pagamento acessíveis e sem custo direto, algo que atraiu ainda mais consumidores para o varejo físico e on-line.

Segundo ele, o Pix já se tornou essencial para o varejo local, especialmente durante eventos como a Black Friday e datas como o Natal, períodos de alta demanda.

"O Pix permite que comerciantes ofereçam descontos e condições especiais de pagamento, fortalecendo o poder de compra do consumidor carioca. Assim, o Pix consolidou-se como uma ferramenta crucial para a competitividade e a dinamização do comércio no Rio de Janeiro", conclui.

De acordo com outro levantamento, realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado do Rio de Janeiro (Sebrae Rio), a ferramenta é aceita por 94% dos empreendedores fluminenes. Os principais motivos para quem não usa são receio de golpe, não ativação da chave e não ter conta em banco. 

A pesquisa também aponta que metade dos empreendedores fluminenses afirma que o pagamento por Pix representa até 50% do faturamento da empresa. Outros 44% dizem que o valor pode chegar a mais de 50% da receita. Já 6% não sabem qual percentual recebem pela ferramenta.

Esses pagamentos são recebidos pela conta PJ da empresa (65%), na conta pessoal do dono ou do sócio (29%), na conta pessoal de terceiros (2%) e outra forma de recebimento (4%).

"O Pix transformou a rotina financeira dos brasileiros, permitindo pagamentos instantâneos, seguros e acessíveis, criando uma experiência prática e ágil. O impacto do Pix no comércio do Rio de Janeiro é profundo", afirma o coordenador de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae Rio, Marcos Mendes.

"A ferramenta não apenas facilitou as transações financeiras ao promover eficiência e inclusão, mas alterou hábitos de consumo e impulsionou o crescimento econômico local. Com novas funcionalidades implementadas, esperamos que o Pix continue a ser um agente transformador nas finanças pessoais e comerciais no Brasil", acrescentou. 

Thalles Helmold, de 36 anos, é dono de uma empresa de alimentação saudável há seis anos. Ele conta que o Pix representa cerca de 25% do seu faturamento e destaca o fluxo de caixa como um dos benefícios de disponibilizar o meio de pagamento.

"Os clientes gostam de pagar no Pix, e para nós também é muito bom, porque o dinheiro cai na nossa conta na mesma hora, permitindo que a gente tenha um fluxo de caixa melhor. Também não pagamos taxa como pagamos para o cartão, então isso aumenta nossa margem de lucro", apontou.

elmold ainda relata que nunca sofreu golpes, mas já teve problema no recebimento de pagamento.

" A única ocorrência que tivemos foi uma cliente que errou um dígito e transferiu um valor de R$400 para uma pessoa errada e essa pessoa nunca devolveu o valor, mesmo com a cliente e a gente insistindo muito", relembra.

Dono de uma empresa que comercializa churrascos e caldos há 12 anos, Douglas Pereira Ramos, de 44 anos, destaca que prefere receber o pagamento dos seus clientes por Pix, pela praticidade.

"Agiliza o pagamento. Tudo instantâneo. Acho melhor do que com dinheiro em espécie", diz. "Chegamos no futuro e nem percebemos", acrescenta.

Segundo Ramos, o meio de pagamento corresponde a cerca de 30% do seu faturamento mensal. Porém, como possui um fluxo muito grande de pedidos de entregas de refeições por meio da internet, mesmo nos pagamentos via Pix, só consegue ter acesso ao lucro total dessas vendas uma vez por semana.

 

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