Dólar cai mais de 1% e se aproxima de R$ 5,40, com exterior e Galípol
Economia, Negócios e Desenvolvimento
Publicado em 20/08/2024

Real apresentou nesta segunda-feira, 19, o segundo melhor desempenho entre as divisas latino-americanas, atrás apenas do peso chileno

Por Estadão Conteúdo / Foto AFP

O dólar à vista abriu a semana em forte queda no mercado doméstico, alinhado ao movimento de enfraquecimento da moeda americana no exterior, e chegou a flertar com fechamento abaixo do piso psicológico e técnico de R$ 5,40. O real apresentou nesta segunda-feira, 19, o segundo melhor desempenho entre as divisas latino-americanas, atrás apenas do peso chileno, que se recuperou de perdas recentes.

Já em terreno positivo pela manhã diante das apostas crescentes de início de corte de juros nos EUA a partir de setembro, o dólar aprofundou o ritmo de queda ao longo da tarde.

Além de declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçando que uma alta da taxa Selic está na mesa do BC, houve aumento do apetite ao risco no exterior após a notícia de que Israel concordou com um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Operadores relataram entrada de fluxo comercial, com exportadores antecipando internalização de recursos diante da expectativa de um dólar mais fraco. Há também um apetite renovado dos estrangeiros por ações domésticas após a safra positiva de balanços. Em agosto, até o dia 15, o saldo do capital externo na B3 está positivo em R$ 4,057 bilhões.

Com mínima a R$ 5,3770, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 19, em queda de 1,02% - cotado a R$ 5,4120 - menor valor no fechamento desde 24 de junho (R$ 5,3904). No mês, a moeda americana já acumula desvalorização de 4,30%. Do pico de agosto no dia 5 (R$ 5,7414) até esta segunda-feira, a divisa caiu 5,73%.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirma que boa parte da apreciação do real nesta segunda-feira se deve ao quadro externo, com investidores "comprando" a tese de que o Fed vai começar a cortar os juros em setembro em um "processo bastante ordenado", que combina afrouxamento monetário com desinflação.

"Os diretores do Fed vêm preparando o terreno nos discursos recentes para o corte em setembro. E o mercado parece começar a precificar que Powell vai revelar alguma coisa na sexta-feira", afirma Borsoi, em referência a discurso do presidente do BC norte-americano, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, no dia 23. Na quarta-feira, 21, sai a ata do mais recente encontro de política monetária do Fed.

á fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene - caiu mais de 0,50% e furou o piso dos 102,000 pontos, com mínima a R$ 101,854 pontos, perto dos menores níveis em 2024. O dólar recuou na comparação praticamente todas as divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com raras exceções como o peso mexicano.

O economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, afirma que a apreciação do real vem da combinação de avaliação dos investidores sobre o rumo da política monetária aqui e lá fora. "A 'certeza' da redução de juros pelo Fed e a cada vez mais elevada probabilidade de alta da taxa Selic aumentará o diferencial de juros, atraindo capital", diz Galhardo. "Isso já começou a se refletir na valorização da moeda brasileira. A tendência é a de que esse movimento persista ao longo do tempo".

Em evento nesta segunda-feira em Belo Horizonte (MG), Gabriel Galípolo repetiu que a possibilidade de elevação da taxa Selic em setembro está na mesa do BC, mas ponderou que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) é condicionada aos indicadores. "Nós estamos com quatro semanas para a próxima reunião do Copom. Existe uma série de variáveis para serem feitas, para serem observadas", disse.

Galípolo reforçou a busca do Copom pela meta de inflação (3%) e revelou que jamais se sentiu pressionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

le destacou a fala de Lula na sexta-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, de que o próximo presidente do BC tem que ter "coragem" para reduzir ou elevar os juros. "Foi importante", disse Galípolo, nome mais cotado para substituir Roberto Campos Neto no comando da autarquia a partir de 2025.

Para Borsoi, da Nova Futura Investimentos, Galípolo adotou um tom menos duro nesta segunda-feira do que nas declarações da semana passada. Ele destaca o trecho em que o diretor do BC afirma que "o fato de o balanço (de riscos para a inflação) estar assimétrico não é qualquer tipo de guidance" ou sinalização para a próxima reunião do Copom.

O economista observa que, além do quadro externo de perda de força do dólar, o real se aprecia como reflexo da percepção de uma maior coordenação da política econômica do governo Lula, em decorrência de declarações reiteradas de ministros sobre o controle das contas públicas e da postura firme do BC na busca pela meta de inflação.

"Isso levou a uma diminuição dos prêmios de risco aqui. O dólar é muito usado para hedge (proteção) e, com risco menor, podemos estar vendo uma desmontagem de parte dessas posições", afirma Borsoi

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