Por Leandro Nunes, do Portal Manchete RJ
O discurso do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), nesta terça-feira (23), marcou um ponto de inflexão no cenário político fluminense. Ao criticar de forma contundente o governador Cláudio Castro (PL) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), Bacellar não apenas deu voz à insatisfação com a escalada da violência na capital, como também expôs, pela primeira vez em público, fissuras de bastidores entre lideranças que até então mantinham uma relação de conveniência política.
O tom duro do parlamentar foi além das cobranças institucionais de rotina. Ao destacar a “união do vinho”, numa referência a encontros sociais entre Castro e Paes, Bacellar deixou claro que a população espera muito mais do que gestos protocolares. Exige presença efetiva nas ruas, sobretudo diante ao ocorrido no último final de semana em Copacabana.
As críticas ao volume de recursos destinados à Polícia Militar, inferior ao do Proderj reforçam a percepção de desequilíbrio nas prioridades do governo. Mais do que números, a fala sugere uma escolha política de governo, pois enquanto a violência explode, o Estado aposta mais em projetos de transformação digital.
O ataque direto ao governador e ao prefeito, entretanto, não pode ser visto apenas pelo prisma da segurança pública. Ao expor publicamente as omissões que nos bastidores já eram comentadas, reposiciona-se como protagonista político, Bacellar se coloca como voz que não será calada por cargos ou vaidades, e, assim o presidente da Alerj sinaliza que pretende ocupar espaço no papel central.
A ausência de resposta imediata do governo estadual até aqui dá ainda mais peso ao episódio. O silêncio, que Bacellar denuncia como omissão, se converte em combustível para o discurso de oposição interna, um desgaste que mina a imagem de unidade em torno de Castro e cristaliza o momento como divisor de águas. Mais do que um desabafo, a fala é um recado político, que revela não apenas divergências administrativas.
Ao romper o silêncio, Bacellar, conhecido por sua postura firme, inaugura uma fase em que as tensões latentes deixam de ser sussurradas nos bastidores e passam a pautar o debate público. O embate, agora explícito, e mesmo declarando não estar com a cabeça voltada para a eleição de 2026, abre uma nova frente de disputas, e, podendo até mesmo redesenhar alianças e reposicionar atores num tabuleiro político cada vez mais instável.