Contraventor já havia sido denunciado pela morte do rival em 2021, mas acabou solto por falta de provas. Ação também prendeu um PM reformado
Por O Dia / Foto Reginaldo Pimenta (Ag. O DIa)
Rio - O contraventor Rogério de Andrade foi preso, na manhã desta terça-feira (29), pela morte de Fernando de Miranda Iggnácio, em 2020. A operação Último Ato, do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio (Gaeco/MPRJ), aponta o bicheiro como mandante do homicídio do rival. A vítima e o denunciado são, respectivamente, genro e sobrinho de Castor de Andrade, um dos maiores chefes do jogo do bicho no Rio, que morreu em 1997.
O bicheiro foi preso em casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, no início da manhã, e levado para a Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), na Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte. Ele deixou o local pouco antes das 8h30, após prestar depoimento, seguiu para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro, e depois foi evado para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica.
Além dele, a ação também prendeu o policial militar reformado Gilmar Eneas Lisboa, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, responsável por monitorar a vítima até o momento do crime. O denunciado chegou à Cidade da Polícia para prestar depoimento por volta das 9h15, e também foi levado para o IML e, em seguida, para o presídio de Benfica. Segundo o Gaeco, a morte de Fernando Iggnácio foi motivado pela disputa pelo controle de pontos do jogo do bicho.
Rogério e Gilmar Eneas foram denunciados à Justiça por homicídio qualificado e os mandados de prisão foram expedidos pelo Juízo da 1ª Vara Criminal do Tribunal do Júri. A ação teve apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ). O crime aconteceu em 10 de novembro de 2020, no estacionamento de um heliporto, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, quando Fernando Iggnácio desembarcava, e acabou atingido por três tiros, um deles na cabeça.
Em março de 2021, o MPRJ já havia denunciado o contraventor pelo mesmo crime, que acabou solto, em fevereiro de 2022, após a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidir, por maioria de votos, trancar a ação penal, alegando falta de provas do envolvimento do bicheiro no crime como mandante. Por meio de novo Procedimento Investigatório Criminal (PIC), o Gaeco identificou sucessivas execuções protagonizadas pela disputa entre Andrade e Iggnácio, além da participação do PM no homicídio.
No último dia 9, o contraventor foi alvo de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público, contra envolvidos no assassinato de Fábio Romualdo Mendes, em setembro de 2021. O crime também teria sido motivado por disputa em uma organização ligada ao jogo do bicho, da qual a vítima fazia parte. Na ação, o presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel - da qual Rogério de Andrade é patrono -, Flávio da Silva Santos, conhecido como Flávio da Mocidade, foi preso em flagrante.
Procurada, a Polícia Militar informou apenas que a Corregedoria Geral da corporação acompanhou a ação do Ministério Público, na qual um policial militar foi preso por envolvimento em um homicídio. A reportagem de O DIA tenta contato com a defesa de Rogério de Andrade. O espaço está aberto para manifestação.
Entenda o crime
De acordo com a denúncia de 2021 do Ministério Público, a morte de Fernando Iggnácio foi ordenada por Rogério de Andrade, o Patrão, e Marcio Araujo de Souza, e a execução realizada por Rodrigo Silva das Neves, Ygor Rodrigues Santos da Cruz, o Farofa, Pedro Emanuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro, o Pedrinho, e Otto Samuel D'Onofre Andrade Silva Cordeiro. Os seis foram denunciados pelo órgão, à época.
Segundo o MPRJ, por volta das 9h de 10 de novembro de 2020, Rodrigo, Ygor, Pedro Emanuel e Otto Samuel chegaram de carro ao local do crime e três deles invadiram um terreno baldio que fazia divisa com o heliporto. Eles estavam com, pelo menos, duas armas de fogo de alta energia cinética (fuzis PARA FAL e AK-47, ambos de calibre 7,62 mm).
Depois de esperarem por cerca de quatro horas, Fernando Iggnácio desembarcou em seu helicóptero, retornando de Angra dos Reis, na Costa Verde. Os denunciados, então, posicionaram as armas em cima de um muro próximo ao do estacionamento do heliporto, a uma distância de aproximadamente quatro metros do local onde estava estacionado o veículo da vítima. O bicheiro foi alvejado com três disparos, um deles na região da cabeça.
A denúncia apontou que Marcio, um dos responsáveis pela segurança pessoal de Rogério de Andrade, foi o responsável por contratar, a mando de Rogério, os outros denunciados para executarem o crime. A investigação identificou que Rodrigo das Neves e Ygor da Cruz já trabalharam como seguranças da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.
Quem é Rogério de Andrade?
Rogério de Andrade é sobrinho de Castor de Andrade, que dominava o jogo do bicho nas décadas de 1970 e 1980. Após a morte de Castor de Andrade, em 1997, ele passou a disputar o espólio com Fernando Iggnácio, genro do patrono, que foi assassinado há quase quatro anos. Além disso, é patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel, que tem sua mulher, Fabíola Andrade, como rainha de bateria. O contraventor chegou a ser preso em 4 de agosto de 2022, em Petrópolis, na Região Serrana.
À época, ele era considerado foragido desde a deflagração da operação Calígula, em maio daquele ano, contra redes de jogos de azar. Rogério deixou a cadeia em dezembro do mesmo ano, após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) conceder liminar para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares, que incluíam a tornozeleira eletrônica e o recolhimento domiciliar à noite. Em abril deste ano, o ministro do STF, Kassio Nunes Marques, revogou as medidas cautelares.