O resultado foi apresentado pelos novos profissionais em uma intervenção urbana no último dia 19, que se iniciou nas dependências da universidade e se estendeu ao Guarus Plaza e ao Boulevard Shopping — onde permanece em exposição.
O projeto teve início em julho do ano passado, em parceria com a Subsecretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sirdh), adaptando o curso de costura criativa que já era hospedado na ITEP/UENF, para o curso de costura de confecção, visando impulsionar os alunos para o mercado de trabalho e formar novos agentes de moda na cidade.
— Muito além de ensiná-los a dominar técnicas de costura e modelagem, nosso intuito sempre foi contribuir com uma mudança no jeito de vestir da população negra de Campos — declarou a coordenadora do programa, Nilza Franco.
Além de atuar como uma das professoras do curso, a artista Mariana Nagib foi a responsável pelo planejamento e a supervisão das aulas. Após nove meses de trabalho, uma coleção inovadora foi para a rua, dando ênfase aos movimentos de resistência da população negra.
— Coordenar o projeto foi um misto de desafios e realizações. Como agente de moda, já observava que o panorama da relação de pessoas negras com o segmento estava para além de um papel de empoderamento. Está também na defesa de um racismo estrutural, onde essas pessoas precisam estar sempre bem vestidas para terem acessos — disse Mariana. E acrescentou, sobre a experiência de ver o projeto acontecer:
— Foi bonito observar, na prática, alunos tão comprometidos com suas histórias e ancestralidades, testemunharem o encontro de pessoas com realidades muitos distintas mas que se reconheciam nas dores, reconhecer seus esforços desmedidos para alcançar o objetivo de chegar onde estamos agora, cheios de conhecimento e ideias revolucionárias para pôr em prática — concluiu.
Novos agentes de moda
Amailde Maria da Costa, Cleo Leite, Deniza Gonçalves, Edna de Jesus, Rossini Reis, Samuel Pereira e Vera Lúcia Rosa são os novos costureiros e agentes de moda formados pela ITEP/UENF.
A servidora pública Edna de Jesus desenvolveu o projeto Afro Livre – Liberdade para Criar.
— Antes de entrar no curso, eu só fazia pequenos trabalhos de costuras, crochê e customizações. Após fazer parte do projeto, pude me aperfeiçoar e passar a colocar em prática todo o conhecimento adquirido. Hoje passo a ter uma nova visão empreendedora, graças ao curso de moda afrocentrada, uma iniciativa que já se tornou realidade e valoriza a beleza da moda afro como ela merece — destacou.
Advogado, pedagogo e servidor público, Rossini Reis está cursando atualmente pós-graduação em História dos Povos Indígenas e Africanos no Brasil. Ele idealizou e entregou o projeto Africanizando.
— A ideia é despertar a identidade e valorização da cultura afro, trazendo orgulho para os descendentes de negros africanos no Brasil. Dessa forma, a moda pode colaborar sendo o cartão de visita desse novo ser que se reconhece como negro e não tem medo de mostrar as suas raízes. E é assim que quero levar a moda afro centrada para todos, ressignificando a minha existência e contagiando a todos com o orgulho de ser o que sou — enfatiza Rossini.
Instrutora da área têxtil, Angelita Carvalho trabalha ensinando desenvolvimento em máquinas industriais há 20 anos. Ela, que ministrou as aulas durante todo o curso de Moda Afro Centrada, afirma que se sentiu realizada ensinando costura para esses jovens negros, agora novos profissionais formados pela UENF:
— A troca de conhecimento é fantástica. Além disso, estar diante de tanta beleza que a moda afro nos proporciona é um privilégio. Como mulher umbandista, me sinto também lisongeada de poder estar ensinando ferramentas para produção de roupas de orixás e cultuando a ancestralidade da religiosidade africana — declarou.