CEO da Maritime Ship Service, Thiago Nascimento, analisa expectativas e desafios na atuação em nova fronteira exploratória em águas profundas e ultraprofundas
Por Assessoria
Explorar com responsabilidade e sustentabilidade, tanto ambiental, quanto social. Esse pode ser o diferencial no rumo econômico, no que tange a rede offshore, com seus elevados índices de geração de emprego, renda e energia. Com altas probabilidades de bons resultados ainda no primeiro semestre de 2026, a pauta neste setor segue comprometida com o desenvolvimento da Margem Equatorial brasileira, a mais nova fronteira exploratória brasileira em águas profundas e ultraprofundas, que fica entre os Estados do Amapá e Rio Grande do Norte.
Com o anúncio de mais de US$50 bilhões em investimentos, a Margem vem atraindo e mobilizando empresas da indústria marítima, na expectativa de que esta exploração seja um sucesso. A região, que está sendo considerada como o “novo pré-sal”, se estende por mais de 2.200 km ao longo da costa e pode garantir a demanda energética do país.
Mantendo o foco em uma gestão ambiental rigorosa, desafios naturais específicos deverão ser superados, com responsabilidade.
O CEO da Maritime Ship Service (há 20 anos em atuação no mercado), Thiago Nascimento, defende que é preciso achar um caminho eficiente, em que o Brasil ganhe com a exploração dessa região, e que os recursos dela advindos sejam alocados em pesquisa e desenvolvimento para uma indústria mais verde. Essa iniciativa, segundo ele, deve vir tanto de órgãos públicos quanto de empresas privadas, como a própria Maritime, que lançará projetos de empreendedorismo e educação para fortalecer o desenvolvimento local.
“É justamente essa responsabilidade que é preciso. Inclusive, uma das grandes temáticas da IMO (International Maritime Organization) é a sustentabilidade, abordada em todos os eventos internacionais; e temos a meta para 2030 e 2050 de descarbonização total da indústria marítima, que é de extrema importância para o mundo todo”, observa.
No setor energético de petróleo, Thiago defende que é importante direcionar a riqueza gerada para investimentos em pesquisa e desenvolvimento científico no Brasil na área de energia. Segundo o especialista, se por um lado a exploração do petróleo traz muitos retornos financeiros para o país, por outro, existe uma preocupação legítima com a poluição, com o desmatamento, e outros impactos que virão com a exploração da Margem Equatorial.
“Temos visto uma mudança muito responsável no perfil da Petrobras, que tem se posicionado no mercado como uma empresa que investe muito em sustentabilidade. É uma empresa muito séria no Brasil, e mundialmente respeitada. Ela teve que se adaptar. Para ter acesso a crédito e a alguns mercados, ela precisa ter alguns selos de sustentabilidade, tanto social quanto ambiental, sem os quais perderia grande valor financeiro”, analisa.
Qual a importância dessa descoberta e dessas novas fronteiras, neste caso, para o setor energético do país?
Tudo indica que o volume da Margem Equatorial Brasileira é muito maior que o volume do pré-sal. Essa é uma região promissora com potencial para conter até 10 bilhões de barris de petróleo. Isso vai assegurar a continuidade da produção nacional nas próximas décadas, mantendo a autonomia energética do país, reforçando a segurança no setor energético, e evitando a importação de petróleo. Países adjacentes que já estão explorando esses recursos estão tendo muito sucesso. Muito embora estejamos falando de combustível fóssil, é economicamente importante para nosso país. De forma geral, o mundo precisa de petróleo.
A produção de óleo a partir da Margem Equatorial é uma decisão estratégica para que o país não tenha que importar petróleo na próxima década. Além do setor energético, o que significará para outros setores que envolvem a navegação?
Fora o produto do próprio petróleo e seus derivados, e os royalties que isso gera para o país, temos uma economia pulsante da indústria marítima, que vai circular para que essa exploração da Margem Equatorial aconteça com sucesso. Cada plataforma de petróleo possui o apoio de várias embarcações. Desde os navios PSV, que levam equipamentos para a plataforma, temos navios OSRV que assistem para eventuais vazamentos, e embarcações AHTS que cuidam da âncora da plataforma, para citar alguns. E o próprio petróleo e seus derivados são transportados por navios cargueiros na cabotagem nacional. Então, temos uma frota de navios e embarcações de apoio de todos os tamanhos. Por isso, com certeza o volume naval, o fluxo marítimo de navios e embarcações, tende a aumentar significativamente com essa produção de óleo a partir da Margem Equatorial, que aquece o setor marítimo como um todo. Afeta desde nós, fornecedores, até brokers, empresas de catering, portos. A logística envolvida é muito intensa. Além disso, vamos ter o aumento de refinarias, aumento de estaleiros, encomenda de novas embarcações, importação de embarcações... Tudo isso gera muito emprego. O valor de embarcação aquece o mercado marítimo e o mercado de mão de obra nacional. Quando essas embarcações importadas vêm trabalhar no Brasil, têm um limite mínimo de tripulantes nacionais que precisam trabalhar nelas, por mais que sejam estrangeiras, e isso aquece a indústria da mão de obra marítima. Fora aqui, na terra: um estaleiro emprega muita gente. Em terminais portuários, existe muita mão de obra, tanto para reparo, quanto para as obras de aperfeiçoamento de terminais, quanto para a operação em si do terminal. E temos muitos investimentos anunciados. A exploração da Margem Equatorial deve injetar mais de US$ 50 bilhões em investimentos na economia do Brasil.
Como a margem equatorial influenciará na logística das operações offshore?
Essa exploração vai exigir um planejamento sofisticado. Por um lado, precisamos adequar todo o desenvolvimento para as condições ambientais do Norte e Nordeste, e respeitar áreas que devem ser protegidas, por exemplo, os manguezais. Por outro, essa exploração também demanda um investimento grande no desenvolvimento de bases para o armazenamento, distribuição e apoio às atividades de pesquisa e exploração. Docas, armazéns, portos, estaleiros. Principalmente no Amapá. E o desafio logístico vai ser, como sempre: manter eficiência, segurança e compliance ambiental durante toda a fase exploratória e produtiva. A Margem Equatorial demanda então um aumento significativo, e que vai ser constante, na capacidade de suporte logístico, porque existe uma necessidade de infraestrutura portuária, de bases de apoio, de transporte marítimo e aéreo especializado para acontecer. Isso vai requerer coordenação eficiente para manutenção da cadeia de suprimentos, transporte seguro de pessoal e equipamentos. Sem falar na gestão ambiental rigorosa em uma região com desafios naturais específicos.
Como o potencial de aumento da produção de petróleo e gás pode contribuir para o desenvolvimento econômico das regiões Norte e Nordeste do Brasil?
Daqueles mais de US$50 bilhões em investimentos na economia, a maior parte vai estar nas regiões Norte e Nordeste. São muitos empregos diretos e indiretos. O volume econômico, o suporte que é preciso para essas regiões em que o petróleo vai ser explorado, é muito grande. Isso por si só já impulsiona de modo significativo a economia local. Além disso, tem os royalties gerados pelo próprio petróleo. Esses royalties vão ficar nos estados, como aconteceu com o RJ e SP, com a Bacia de Campos. Os tributos gerados pelos estados e municípios precisam ser utilizados com muita responsabilidade. Mas com certeza a tendência será o petróleo e sua cadeia de apoio gerando renda nesses estados que estão compreendidos pela Margem Equatorial. E é preciso exploração com responsabilidade.
Responsabilidade com o impacto da própria atividade, e também responsabilidade com os dividendos gerados por esta exploração. Que os dividendos, tributos, royalties decorrentes da exploração de petróleo da Margem Equatorial gerem responsabilidade social.
O cenário ideal é conseguirmos traduzir petróleo em desenvolvimento verde. Por mais que muitas tecnologias aplicadas nessa atividade de exploração sejam estrangeiras, há uma transferência desse know-how tecnológico para o patrimônio intelectual e científico nacional. E aqui no Brasil somos muito fortes na pesquisa. O SENAI CIMATEC, em Salvador, é um braço do SENAI dedicado à pesquisa marítima, de tecnologia subaquática e outros. O CUBO, em SP, tem um hub marítimo-portuário. Temos também o Cluster Tecnológico Naval no Rio de Janeiro. Fora as iniciativas de empresas privadas. Acredito que nós devemos fazer nossa parte, reinvestindo no desenvolvimento de pessoas dentro de nossas empresas, capacitando para o empreendedorismo, melhorando as condições de educação da nossa gente.
Em uma utopia, vamos (como país) investir esse dinheiro para tornar essa exploração mais verde mesmo, em pesquisas, para podermos nos destacar no mundo com relação à eficiência e eficácia desses investimentos, com relação à sustentabilidade, com relação a como esses investimentos vão voltar para a sociedade. Se realmente tivéssemos esse dinheiro sendo bem utilizado, com responsabilidade pública, o país daria uma impulsionada.
Conciliação é a palavra: nem tanto ao céu, nem tanto ao mar.