Artista morre, no Rio, aos 77 anos, de infarto
Por Bruno de Freitas Moura e Cristina Índio do Brasil, da Agência Brasil
Escolas de samba e personalidades prestam homenagens para a carnavalesca Rosa Magalhães, dona de sete títulos do carnaval carioca. Ela morreu, no Rio de Janeiro, na noite dessa quinta-feira (25), aos 77 anos. A confirmação da morte foi feita pela escola de samba Império Serrano, pela qual Rosa foi campeã em 1982. Rosa sofreu um infarto em sua casa.
“Com tristeza, a Império Serrano recebeu a notícia do falecimento da carnavalesca Rosa Magalhães, aos 77 anos, nesta noite”, informou a escola.
“Fica aqui a nossa gratidão por tudo que você, Rosa, fez pelo carnaval, pela contribuição à nossa história e à arte”, completa a agremiação.
O velório será aberto ao público no Palácio da Cidade, sede da prefeitura do Rio, em Botafogo, 12h às 16h. O sepultamento será restrito a familiares e amigos, no cemitério São João Batista, também em Botafogo, às 16h30.
Rosa tinha mais de 50 anos dedicado à arte. A Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), ao lamentar a morte, afirmou que Rosa Magalhães “fez história” no carnaval.
O título de 1982 com o Império Serrano fez o enredo “Bum Bum Paticumbum Prugurundum” figurar entre um dos mais famosos do carnaval carioca.
Na Imperatriz Leopoldinense, a amante do carnaval conseguiu fazer a escola atingir a supremacia por anos seguidos. Conquistou o bicampeonato de 1994 e 1995 e o tricampeonato de 1999, 2000 e 2001.
“Falar de Rosa Magalhães é falar da história da Imperatriz, tendo em vista que, de sete títulos conquistados pela professora, cinco foram em nossa agremiação”, publicou no X (antigo Twitter), a Imperatriz Leopoldinense.
“Neste momento, faltam palavras para definir a grandeza de Rosa e de toda a sua trajetória não só no carnaval, mas em toda a sua carreira, ao longo dos mais de 50 anos de trabalhos dedicados à arte. Rosa promoveu desfiles inesquecíveis aos olhos do público e de toda a crítica, e sempre estará marcada por sua elegância, pela entrega magistral em seus trabalhos, e, principalmente, por sua brasilidade nas histórias que contou ao longo de todo esse tempo”, completou a Imperatriz Leopoldinense.
O último campeonato da carnavalesca foi em 2013, comandando o carnaval da Unidos de Vila Isabel. “Viva Rosa Magalhães”, postou nas redes sociais a Vila Isabel após a notícia da morte.
“Se o carnaval carioca alcançou a primazia como grande espetáculo visual muito se deve a Rosa. Nossa escola tem por ela uma gratidão imensurável por ser um gênio artístico à frente do nosso último campeonato em 2013”, publicou a escola da zona norte do Rio de Janeiro, acrescentando que ela “projetou o seu talento e profissionalismo para além da Avenida”.
Era Sambódromo
Rosa é a maior carnavalesca da Era Sambódromo, que começou com a inauguração da Passarela do Samba, em 1984. A última participação dela foi em 2023, na escola Paraíso do Tuiuti.
Uma das curiosidades é que ela gostava de fazer e participar dos desfiles para, em algumas vezes, se misturar com os componentes, sem necessariamente se fazer perceber. Era uma forma de sentir a evolução da escola e a reação do público.
Além de levar a magia de fantasias e adereços para a Marquês de Sapucaí, Rosa Magalhães ditou o espetáculo de cores e movimentos na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e na festa de encerramento das Olimpíadas de 2016, ambas no Rio de Janeiro. A celebração de 2007 rendeu para a carnavalesca o prêmio Emmy de melhor figurino.
Legado
Carnavalescos viam em Rosa mais que uma competidora. Ela era também uma “professora”, disse Alexandre Louzada, dono de seis títulos na elite do carnaval carioca e dois no carnaval paulista.
“Eu realmente tinha intenção de fazer um enredo sobre ela. Quando nos encontramos, ela sempre brincava que não queria enquanto ela estivesse competindo. Eu dizia que ela estava com medo de perder para ela mesmo”, contou em mensagem enviada à Agência Brasil.
Dono de três títulos no Grupo Especial do carnaval do Rio, incluindo um com a Imperatriz Leopoldinense em 2023, Leandro Vieira disse que, no futuro, não haverá “desfile que não tenha uma espécie de assinatura da professora”.
“A Rosa vive e viverá em cada carnavalesco que insistir em fazer carnaval. Seu nome vai viver em cada história bem contada, em cada fantasia vestida, em cada alegoria que flerte com a inteligência e a beleza. Seu nome é uma espécie de verbete daquilo que determina o que é, o que faz e para que serve um carnavalesco”, complementou.
André Rodrigues, carnavalesco da Portela, observou que Rosa era uma “realidade fundadora” do carnaval.
“Ela fundou um outro tipo de ver e fazer carnaval. Carnaval é mutável e uma dessas transformações aconteceram graças [ao talento] de Rosa. Ela aprofunda a escola de samba de uma maneira muito bonita e poética”, afirmou. “Nós somos hoje o legado dela”, completou.
Gabriel Haddad, carnavalesco campeão com a Beija-Flor em 2022, considera que a obra de Rosa, que era formada pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é “eterna”.
“Rosa foi uma referência, vai ser uma referência ainda para muitas e muitas gerações de pessoas que trabalham com a arte brasileira. O carnaval é uma arte que só a gente sabe fazer e Rosa foi uma das maiores de todas”, declarou.
A trajetória dessa carioca no carnaval começou pela escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. A agremiação homenageou a carnavalesca nas redes sociais e lembrou o início da carreira dela.
“Em 1971, o barracão do Salgueiro ficava em um quintal em Botafogo. Entre os nomes presentes estavam Joãosinho Trinta, Lícia Lacerda, Maria Augusta e Rosa Magalhães, que começou sua carreira ali, junto a um pequeno time de artistas e dois assistentes. Com a ajuda do mentor Fernando Pamplona, Rosa ingressou no mundo do carnaval durante aulas na Escola de Belas Artes”, publicou.
“Rosa Magalhães teve uma trajetória marcante no Salgueiro, não apenas iniciando sua carreira na escola, mas também atuando como carnavalesca em 1990 e 1991. Seu estilo barroco único no carnaval, inspirado e transformado pelos mestres Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta, redefiniu a linguagem carnavalesca, combinando história e luxo em desfiles inesquecíveis”, finalizou.
Uma mente brilhante
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, classificou Rosa como “uma das mentes mais brilhantes da nossa maior manifestação cultural [o carnaval].” Ele acrescentou que a história da carnavalesca se confunde com a do próprio carnaval. “De um jeito único, ela encantou a todos nós com sua capacidade de materializar sonhos na avenida, de contar histórias de um jeito único e emocionar quem assistia”, escreveu o prefeito.
O jornalista e escritor Fábio Fabato, especialista em carnaval, chamou a artista de “maior fazedora de festas populares” e a equiparou a artistas como Tarsila do Amaral e Cândido Portinari.
“Através da arte de Rosa Magalhães, através de suas criações, nós nos descobrimos mais brasileiros, já que ela foi uma investigadora profunda de causos e curiosidades na nossa cultura que, muitas vezes, os livros didáticos não contam”, declarou.
Ele disse que ela se mantinha ativa intelectualmente, escrevia um livro sobre os últimos carnavais e estava envolvida com uma peça de teatro infantil