Por SRzd
Emoção. Essa palavra define um pouco do que Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre, sentiu na tarde do último domingo (10), na quadra da Unidos da Vila Santa Tereza, escola em que será tema do enredo no Carnaval de 2024, no Rio de Janeiro.
Durante feijoada realizada na quadra da agremiação, Solange foi recebida com muito carinho pela comunidade e segmentos. Bastante emocionada, ela foi surpreendida em vários momentos. Um deles, foi a presença de
“Foi um momento incrível. Minha eterna gratidão a toda essa comunidade, a você Patrícia Drummond e toda a sua diretoria, baianas, mestre de bateria, bateria, casais, velha guarda, compositores do samba, todos. A acolhida foi sensacional. Sem palavras pra tanto aconchego e tanta emoção que eu vivi neste lugar. Obrigado pela minha ‘Santa’ que já está na minha sala. Tenho a certeza de que será um momento único, tanto pra mim como para vocês. Será lindo”, disse a comandante da atual campeã do Grupo Especial de São Paulo.
O título do enredo é: “Solange, da sua, da minha e da nossa Morada do Samba”. O desenvolvimento ficará por conta do carnavalesco Caio Araújo. O desfile será o quarto da noite de sexta-feira, dia 16 de fevereiro, na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, na Zona Norte do Rio.
Não será a primeira vez que Solange será destaque de um enredo no Carnaval. Neste ano, ela foi homenageada no desfile da Sangue Jovem, agremiação que ficou na sexta colocação do Grupo Especial na cidade de Santos, com o tema “No nome, a cruz… Na mão, o terço. De Sangue e alma Jovem, eis Solange, a leoa do samba!”.
Força, determinação, e sensibilidade aos detalhes são marcas registradas da personalidade de Solange Cruz, tudo isso cercado pelo toque feminino e seu estilo único, que faz toda a diferença na condução de suas atividades como presidente da Mocidade Alegre, onze vezes campeã do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo.
Seu alento vem de um pacto profundo com a particular natureza carnavalesca num momento onde a folia em si não apresentava a grandeza organizacional e a importância cultural dos dias atuais. Solange acompanhou de perto as justas causas pelas quais seus familiares defendiam mais espaço e profissionalismo na produção dos espetáculos artísticos realizados pelas escolas de samba na capital paulista.
Seu pai, Carlos Augusto Cruz e seu tio, Juarez da Cruz, foram dois desses patronos, também fundadores e ex-presidentes da Mocidade Alegre. Nascida e criada no universo do samba e em meio aos avanços do Carnaval, desenvolveu-se de modo a contribuir para a melhoria e crescimento da agremiação alicerçada por seus antecessores.
Ainda jovem, trabalhava o seu espaço administrando departamentos e liderando produções internas, configurando uma figura presente e acalorada pelas cores verde, vermelha e branca de seu pavilhão. Essa paixão a colocou de frente com o destino mais improvável: com a morte de sua irmã Elaine Bichara, Solange tornou-se presidente da Mocidade Alegre em abril de 2003, mantendo a posição das administrações familiares, porém, atenta aos desafios onde nos quais enxergou a necessidade de mudanças principalmente na forma de criar e administrar um Carnaval.
Uma nova liderança foi formada valorizando a composição e junção do trabalho em equipe de cada um de seus departamentos. Como uma grande empresa que precisa estar atenta as transformações e indicadores sociais e econômicos do país, sua gestão participativa trouxe mais visibilidade e qualidade às produções da agremiação ao valorizar e formar o potencial humano oriundo de sua comunidade. Sua postura, diante do cargo, é bem pontual.
“Solange trabalha como a porta-voz e não a dona da escola”
Em seu primeiro ano de gestão veio o primeiro campeonato, desprendendo a escola de um incômodo jejum de 24 anos sem títulos e trazendo entusiasmo e motivação aos seus seguidores. A partir disso, a administração da Presidente Solange levou a Mocidade Alegre a impressionantes resultados: desde o início da sua gestão, são sete títulos de campeã do Carnaval, três vice-campeonatos e duas vezes terceira colocada, além de premiações diversas. Mais do que excelentes resultados na competição, o fato da agremiação estar em evidência trouxe novos progressos a escola e ao Carnaval paulistano. Um novo olhar sobre a forma de planejar e desenvolver um espetáculo se expandiu, chamando a atenção de novos investidores e marcas que buscam agregar seus valores na hora de pensar em novas parcerias e campanhas de incentivo.
Desfile da Mocidade Alegre 2004. Foto: Reprodução de TV
Tantos resultados não seriam possíveis se não houvesse uma supervisão moderna e inovadora, atenta às transformações e ao enriquecimento da história do Carnaval de São Paulo, hoje cada vez mais exigente e criterioso em seus aspectos. “Hoje para vencer, você precisa cuidar do detalhe do detalhe, do detalhe”, disse ela ao SRzd.
Destaque recente na Forbes, pelo sucesso de sua gestão que completa 20 anos, Solange é uma mulher habilidosa, comunicativa, de vocabulário preciso, com oratória e fonética especiais.
Apesar de títulos nas três últimas décadas, ela não atribui as conquistas a si mesma, mas à toda comunidade, cujos interesses promete defender com garra. Até mesmo sambistas de escolas coirmãs já relataram, mesmo em algumas ocasiões, não concordando com algumas de suas falas, que gostariam de ter uma líder com este perfil.
“Com base na minha experiência, tento mostrar que é muito mais fácil fazer as coisas com amor”, diz. A frase é dita por uma gestora que lidera uma força de trabalho que não tem remuneração para mover a escola.
Os segredos deste sucesso? Um deles talvez seja a manutenção deste espírito aguerrido casado com a polidez do olhar feminino para administrar uma legião de apaixonados pela Mocidade Alegre, mostrando diariamente que essa atmosfera vai além das fronteiras do Carnaval.