Kewin, atleta de 16 anos, e o professor Maurício Lemos irão aos Jogos Parapan-Americanos de Jovens Bogotá, em junho
Por Arnaldo Garcia
Fotos Cinthia Carneiro
O acesso à divisão principal do Campeonato Brasileiro, em junho, de 2022 e a conquista do Estadual de Basquete Sobre Cadeiras de Rodas, em dezembro, não foram triunfos simples para a ONG Esporte Sem Fronteiras. A vitória da dedicação, superação e persistência, principalmente do professor Mauricio Lemos, que vem há anos numa grande luta pela causa que abraçou, promovendo inclusão social e bem estar a uma galera voluntariosa, destemida e que dá lição de vida através do esporte. E o menino Kewin é produto de tudo isso e hoje representa o início da segunda geração dessa modalidade em Campos.
Kewin da Conceição Ribeiro, 16 anos, aluno do segundo ano do ensino médio, morador do Novo Eldorado não surgiu no basquete por acaso. Tudo começou quando estava em Macaé e foi ao Ginásio Juquinha ver uma apresentação da modalidade que abraçaria tempos depois. O menino gostou tanto que, numa conversa com um dos atletas foi informado que em Campos também existia uma equipe. Primeiro, teve que convencer a mãe Girlane a levá-lo e depois entrar no grupo e se adaptar à nova prática. Mas, o menino de 10 anos sabia o que queria, e após o período de adaptação só evoluiu basquete e ganhou respeito e espaço na ONG Esporte Sem Fronteira.
Sobre a convocação para Seleção Brasileira que irá a Bogotá, em junho, o talentoso adolescente é só alegria: “Estou muito feliz com a minha convocação e a dedico aos meus companheiros. Desde que entrei no basquete sempre passei por dificuldades, por conta das cirurgias que sofri em função da minha deficiência, então a sensação, neste momento é muito boa, pois está provado que tudo valeu a pena: o interesse, a dedicação, as cirurgias que superei, tudo valeu a pena, destaca Kewin.
Kewin ainda era bebê quando sofreu a primeira intervenção cirúrgica em função de artogripose múltipla congênita. Trata-se de falta de movimentação do bebê no útero, causando-lhe anomalia antes do nascimento, resultando na limitação dos movimentos.
A ideia de se fazer ONG Esporte Sem Fronteira veio em 1997, quando o então coordenador da Universidade Salgado de Oliveira, Isac Ventapani, convidou o professor Maurício Lemos a dar aulas sobre a matéria Ginástica Especial. Era uma época de pouca informação, pois não haviam livros especializados e muito menos a facilidade da internet. Numa visita ao Comitê Paralímpico Brasileiro o professor Mauricio encontro a acolhida do diretor Kleber Veríssimo e do atleta paralímpico Anderson Lopes. Ali, após vivenciar situações e colher uma série de matérias, sentiu a necessidade de Campos ter uma instituição para promover esporte para esse público.
Em 2001, numa visita a Associação Norte Fluminense de Deficientes Físicos (Anfludef), o professor convidou Pity (atualmente um dos principais atletas da ONG), Serginho, Marcelo e Marquinhos a integrarem o time de basquete da instituição, que fez uma parceria com o futebol entre deficientes visuais. Para o professor, essas duas convocações são resultado de um trabalho de inclusão, através do esporte, e muita perseverança: “Já atravessamos muitos desertos, mas já tivemos apoio da Prefeitura de Campos, que retornou agora na administração Wladimir e, exatamente neste momento somos premiados com esse chamado à Seleção Sub-21. Um presente para nós e para o governo, porque está provado que vale a pena incentivar, apoiar e participar de iniciativas como essa. Estamos gratos”, afirma Mauricio Lemos.