Segundo o preparador físico Rodopho Maia, ex-Americano e Goytacaz, grupoo está na fronteira do Sudão com o Egito: "Percurso bem tenso"
Por Matheus Berriel e Arnaldo Garcia
Foto G1
Desde domingo (23), o campista Rodolpho Maia e outros oito brasileiros enfrentam uma verdadeira missão para deixar o Sudão, onde há nove dias ocorre uma guerra entre o Exército local e um grupo paramilitar. Alegando falta de apoio do Ministério das Relações Exteriores, eles saíram da capital do país no ônibus do Al-Merrikh, clube do futebol onde trabalham, e atualmente estão na fronteira com o Egito. De lá, em Aswan, seguirão para o Cairo e, a partir daí, para o Brasil.
— Percurso bem tenso, com muitas barreiras do Exército, conflitos. Saímos de Cartum ontem (domingo), às 18h (13h de Brasília), e chegamos na fronteira às 12h (7h) desta segunda-feira (24h). A burocracia é grande, são muitas pessoas e muita confusão — lamenta Rodolpho Maia, que já foi preparador físico de Americano e Goytacaz e está no Al-Merrikh há cinco meses, mas já em sua quinta passagem pelo futebol do Sudão.
Segundo o campista, devido à falta de iniciativa do Itamaraty, ainda não há previsão exata para o embarque rumo ao Brasil. “Da fronteira com o Egito iremos para uma cidade chamada Aswan, que fica a três horas daqui. Dormiremos lá e amanhã (terça-feira, 25) iremos para o Cairo, capital do Egito, e do Cairo para o Brasil, provavelmente fazendo uma escala em algum país — explica Rodolpho Maia.
Rodolpho está acompanhado pelo treinador Heron Ferreira, carioca, mas que em 1995 comandou o Americano. Também integram o grupo outros três membros da comissão técnica e quatro jogadores do Al-Merrikh, um deles o atacante Paulo Sérgio, que se destacou pelo Flamengo em 2007. Durante o fim de semana, Paulo Sérgio usou seu perfil em uma rede social para fazer críticas ao Itamaraty.
— Todo mundo metendo o pé desse lugar e vocês demorando para agir. (...) Vocês não têm moral com ninguém — publicou Paulo Sérgio no domingo. — Todos organizados e já fechados com outras embaixadas. E a gente, (...), com quem? Só dizem que estão tentando resolver — escreveu o atacante, antes de deixar Cartum no ônibus do Al-Merrikh. Ainda segundo Paulo Sérgio, havia intensos barulhos de bombas na capital do Sudão.
Nesta segunda-feira, o jogador fez nova publicação informando que haviam passado pela primeira barreira na fronteira com o Egito, mas encontram-se parados na segunda. “Não sabemos quanto tempo irá demorar. (...) Estamos bem, porém, a saga continua. Obrigado a todos por cada mensagem de oração e carinho conosco”, postou o atleta.
Até a última quarta-feira (19), o Itamaraty já tinha identificado 12 brasileiros no Sudão. Em nota ao blog na noite desse domingo (23), porém, foi informado que havia 16 nacionais em Cartum. O órgão federal tem mantido contato com a Organização das Nações Unidas (ONU).
— O governo brasileiro segue empreendendo esforços para retirar todos os brasileiros em território sudanês tão logo quanto possível. Estabeleceu-se como prioritária a retirada dos brasileiros que se encontravam na capital, Cartum, onde houve grande parte dos conflitos nos últimos dias. Registravam-se 16 nacionais naquela cidade. Entre esses, preocupava especialmente a situação de três crianças, que deixaram Cartum esta madrugada (de domingo), em companhia do pai, em comboio da ONU para o leste do país. Outros 10 saíram esta tarde (de domingo) por via terrestre em direção ao norte. Uma cidadã seguiu para cidade ao sul, conforme orientada pela organização da qual faz parte. Resta um cidadão brasileiro na capital, que presumia poder ser evacuado esta manhã (de domingo), o que acabou não sendo possível. Encontra-se em segurança e aguardando orientações — informou o Itamaraty.
Ainda segundo o Ministério das Relações Exteriores, “o governo brasileiro chegou a viabilizar evacuação mais ampla em coordenação com a ONU e com países europeus, o que não pôde ser concretizado por questões de deslocamento e segurança. O Brasil permanece em estreito contato com a ONU e com outros governos com nacionais no Sudão e continua a monitorar a situação dos demais brasileiros no país, que por estarem em localidades não conflagradas, estão em situação de menor risco relativo”.
Os conflitos no Sudão envolvem facções militares lideradas pelos dois generais protagonistas de um golpe de Estado em 2021. Trata-se de uma guerra pelo controle do país, eliminando as esperanças de uma transição pacífica para um governo civil. Mais de 400 pessoas morreram e quase 4 mil já ficaram feridas. O Exército e o grupo paramilitar envolvidos anunciaram um cessar-fogo de 72 horas, mas os sons de tiros e explosões não cessaram totalmente.