Depois de abrigar indicados de Eduardo Cunha e pastor Everaldo, prefeito abre canal também com o ex-governador
Por O GlobO / Foto Arquivo
Depois de anos de fortes trocas de acusações, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e a família do ex-governador do Rio Anthony Garotinho estão se aproximando de olho em uma aliança nas eleições para a prefeitura da capital, este ano, e para o governo do estado, em 2026
Nos últimos meses, a construção de novas parcerias vem permeando as costuras de Paes: o Republicanos, hoje ligado ao ex-deputado federal Eduardo Cunha, e o Podemos, sob influência do Pastor Everaldo Dias, ganharam espaços no primeiro escalão de sua gestão.
Uma reunião de mais de quatro horas no Palácio da Cidade na semana passada marcou a primeira vez que Paes e Garotinho conversaram. O deputado federal Pedro Paulo Carvalho (PSD) e a ex-deputada Clarissa Garotinho (União Brasil) também participaram do encontro.
Paes tem pela frente a campanha da reeleição em outubro e, caso saia vitorioso, uma possível candidatura a governador do Rio em 2026. Para isso, ele precisará melhorar seu desempenho no interior do estado, região em que foi pouco votado nas duas vezes em que tentou chegar ao Palácio Guanabara (2006 e 2018). Garotinho é pai de Wladimir (PP), prefeito de Campos dos Goytacazes, quinta maior cidade do estado, e favorito para se reeleger no fim do ano.
A aproximação ocorre após seis anos de trocas de ofensas nas redes e em campanhas eleitorais. Quando disputaram o governo do estado, em 2018, Paes chamou Garotinho de “ex-presidiário” após o então adversário tentar conectá-lo ao ex-governador Sérgio Cabral. Em 2022, os ataques envolveram Clarissa, que criticou o transporte público no Rio na internet: “o projeto do BRT já nasceu todo errado”, escreveu a então deputada. “Falou a filha do Garotinho e da Rosinha sobre nascer toda errada”, devolveu Paes.
— Eduardo foi muito gentil, ficamos de conversar mais — afirma Clarissa sobre o encontro da semana passada.
De Cunha a Everaldo
Procurado, Paes confirmou a reunião. Nenhum cargo em primeiro ou segundo escalão foi oferecido pelo prefeito para os Garotinho neste momento. Não está claro ainda qual será o futuro político da família, que até o ano passado estava filiada ao União Brasil, agora comandado pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado estadual Rodrigo Bacellar, rival declarado dos Garotinho em Campos.
Enquanto o pai deverá ficar sem partido no momento, Clarissa negocia uma filiação ao Republicanos, hoje comandado no Rio pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho. Já Rosinha, mulher do ex-governador, avalia uma entrada no MDB após convite do secretário estadual de Transportes, o ex-prefeito de Caxias, Washington Reis.
Os movimentos de Paes para ampliar alianças na política fluminense começaram em agosto, quando o prefeito nomeou como secretário de Assuntos Metropolitanos, Marcos Dias Pereira, irmão do pastor Everaldo, ex-presidente nacional do PSC. Everaldo foi preso em 2020 com autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acusado de participar de um esquema para fraudar contratos na área da Saúde no Rio.
Mais cargos
Em outubro, foi a vez de Paes empossar Chiquinho Brazão como secretário municipal de Ação Comunitária após uma indicação ao cargo pelo Republicanos, hoje sob influência do ex-deputado Eduardo Cunha. Chiquinho é irmão do ex-deputado e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão.
A indicação, contudo, não garante ainda o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, controladora do Republicanos, que durante anos esteve na oposição a Paes por ser o partido do ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Além do espaço dado a Brazão, Paes terá que ceder mais cargos para integrantes da igreja comandada pelo bispo Edir Macedo caso queira o apoio deles nas eleições de outubro.