Paes e PT avançam por aliança com Santa Cruz como vice, em articulação que pode isolar o Psol
Eleições 2024
Publicado em 16/11/2023

Prefeito do Rio dá espaço a aliado, sondado por cacique petista sobre filiação, e busca desinflar chapa psolista

Por O Globo/ Foto Rebecca Alves 

Em negociação com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), por uma aliança que contemple o partido com o posto de vice na sua chapa à reeleição em 2024, o PT já trabalha com um cenário de filiação do advogado Felipe Santa Cruz (PSD) para apoiá-lo à vaga. O convite a Santa Cruz, hoje secretário municipal de Governo na gestão de Paes, partiu do vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, influente no diretório estadual da sigla. Outras lideranças petistas no estado, embora priorizem alternativas caseiras, estão abertas ao diálogo com Santa Cruz e avaliam que o próprio prefeito tem feito gestos por uma composição mais palatável à esquerda.

A movimentação de Paes e do PT faz parte de um esforço para agrupar partidos da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da concorrência do PSOL, que lançou o deputado federal Tarcísio Motta como pré-candidato à prefeitura. Tarcísio tem mantido conversas desde setembro com caciques de PDT, PSB, PCdoB e do próprio PT, todos com integrantes do secretariado de Paes, de olho em cultivar dissidências na base do atual prefeito.

Além de ter uma aliança ampla, o que dificulta contemplar a todos, Paes deseja indicar um vice de seu grupo político mais próximo, o que também gera resistências. Aliados do prefeito consideram que o plano A é o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), correligionário de longa data. Porém, consideram que, ciente das dificuldades para emplacar o parlamentar, Paes “colocou os reservas para aquecer”, na avaliação de um interlocutor.

Em outubro, o prefeito recriou a secretaria municipal de Governo para dar protagonismo a Santa Cruz em seu primeiro escalão. A estratégia lembra a adotada por Paes em 2015, quando nomeou Pedro Paulo em função similar antes de apontá-lo como candidato à sucessão no ano seguinte.

Diferentemente de Pedro Paulo, que sempre fez parte do grupo político de Paes, Santa Cruz já concorreu a vereador pelo PT e vem de uma família petista. Fora da vida partidária, presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de 2019 a 2022. Após deixar o posto, se filiou ao PSD a convite de Paes e concorreu como vice de Rodrigo Neves (PDT) ao governo.

Sem 'faca no pescoço'

Interlocutores de Santa Cruz afirmam que ele se mostrou disposto a voltar ao PT para concorrer como vice, mas que a decisão cabe a Paes.

— Felipe seria um bom nome, já fiz o convite. Mas parceria não tem faca no pescoço. Tem conversa para que todos ganhem politicamente. Nossa parceria é para 2024 e para a reeleição do Lula e para eleger Eduardo ao governo do Rio em 2026 — afirmou Quaquá.

O PT quer definir a situação do Rio na sua conferência eleitoral nacional, no início de dezembro, em Brasília. O diretório municipal petista deve formalizar sua intenção de apoiar Paes e o desejo de compor a chapa, mas sem afunilar em um nome.

Isso porque, em que pese a simpatia por Santa Cruz, ainda há preferência por um petista “orgânico” de vice. Os secretários municipais Adilson Pires (Assistência Social) e Tainá de Paula (Meio Ambiente) estão cotados.

— Temos maioria a favor de uma aliança, mas resguardando o tamanho político do PT — disse o presidente do PT carioca, Tiago Santana.

A eventual formalização atrapalharia a costura de Tarcísio Motta, cujo partido, o PSOL, faz parte da base de Lula. Apoiado pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), Tarcísio busca convencer a cúpula petista a não entrar de cabeça na campanha de Paes com outro aliado concorrendo.

As conversas do psolista com PDT e PSB também emperraram. As duas siglas priorizam redutos em outras capitais e grandes cidades, e avaliam compor com PSD e PT no Rio de olho em reciprocidade.

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